conversas no café da tarde #9: a primeira pessoa que esquecemos
Oi, escute isso aqui:
Tenho vivido entre altos e baixos ultimamente, e isso me deixou um pouco mais reflexiva sobre as coisas. Em meio a essa fase um tanto conturbada, acabei me apegando a pequenos refúgios durante o feriado (escrevo isso hoje, no dia 22/04). Tenho assistido a podcasts e buscado conteúdos que me façam bem.
Durante esse processo, percebi algo importante: às vezes a gente é o grande filho da puta da história, com toda licença poética do termo, e, em outras vezes, as pessoas é que são filhas da puta com a gente. Entre lidar com os erros que cometemos e os que cometem conosco, acabamos esquecendo da pessoa mais importante em qualquer situação: nós mesmos.
Esse texto se chama “A primeira pessoa que esquecemos” porque eu, de verdade, acredito que, no meio da rotina agitada da vida e desses altos e baixos, entre culpas e acertos, a gente se esquece que, por mais que tudo passe, quem permanece somos nós. Mesmo que sejamos seres mutáveis e adaptáveis, a gente esquece de ter amor por quem está aqui dentro: nós mesmos.
Sempre me importei demais com o que os outros pensam de mim, se gostam de mim de verdade, se faço bem a eles, se tenho algum significado ou relevância, se agi errado, se estou incomodando... e tantos outros pensamentos. Sou extremamente insegura, e isso não deve ser romantizado. Sinto que, muitas vezes, a sociedade nos ensina a não incomodar o espaço do outro, e tudo bem, mas... e o meu espaço? E quem eu sou? E o que eu sinto?
Me vejo tão imersa na tentativa de ser boa para o outro que, muitas vezes, esqueço de ser boa para mim.
Escutamos tantas cobranças sobre como devemos lidar com o outro, ou como devemos ser, que esquecemos de nos perguntar quem realmente somos. Quando eu era pequena, idealizava que, na vida adulta, seria uma pessoa totalmente diferente: calma, tranquila, cheia de amigos e super bem resolvida comigo mesma. Infelizmente, não sou essa pessoa.
Focamos tanto nas partes que julgamos erradas em nós que esquecemos das que são bonitas. Estou tão acostumada a me sentir culpada por tudo que, às vezes, peço desculpas antes mesmo de cometer algum erro (inclusive, tenho um texto sobre isso por aqui).
Há um exercício que muitos psicólogos propõem na terapia: escrever uma lista de tudo aquilo que você acha ruim em si e, depois, tudo aquilo que tem de bonito. É muito mais fácil enxergar os defeitos do que as belezas.
Sinto que vejo reflexos de quem eu sou apenas pelos olhos dos outros, e, mesmo assim, raramente acredito. Nessa fase conturbada, decidi me desconectar um pouco do mundo. Tenho escutado coisas que me fazem bem e reaprendido a reconhecer essa desconhecida que, tantas vezes, trato mal, mas que, mesmo assim, persiste: eu mesma.
Não posso ser hipócrita e dizer que é fácil esse caminho de volta para si, esse olhar atento e gentil. Mas gosto de pensar no que eu diria a alguém que estivesse passando pela mesma situação. É mais fácil pensar em ser bom para o outro do que para si, e isso tem facilitado o processo.
Tecnicamente, não deixa de ser uma mentira o fato de eu estar dando conselhos a uma completa desconhecida espero de coração conhecê-la melhor e ser mais gentil com ela essa mulher que, no fundo, sou eu. Porque me lembro de que, apesar de tudo, só me resta eu mesma.
Clarice uma vez escreveu:
“Minha vida é um grande desastre. É um desencontro cruel, é uma casa vazia. Mas tem um cachorro dentro latindo. E eu só me resta latir para Deus. Vou voltar para mim mesma. É lá que eu encontro uma menina morta sem pecúlio.”
Talvez seja isso: voltar para si seja como entrar nessa casa vazia. Assustadora, sim. Mas lá dentro ainda há algo vivo mesmo que seja apenas um latido. E talvez esse latido seja o início de uma nova conversa com a gente mesma.
Descobri certas coisas sobre mim que eu não sabia:
Descobri que amo ouvir piano, e minhas composições favoritas são Clair de Lune, de Debussy, e Sonata ao Luar, de Beethoven. (deixei um pedacinho logo no ínicio do texto, espero que goste).
Descobri que amo dormir depois do almoço.
Descobri que gosto muito de escrever e que, se eu apenas alimentar minhas ideias, sempre vai surgir algo.
Descobri que amo o Djavan.
Descobri que minha avó tem um jeito único de falar “justamente”.
Descobri que tenho uma melhor amiga de anos e que, infelizmente, às vezes não dou o devido valor a ela.
Descobri que sou extremamente gentil.
Descobri que quero ter dois filhos; de preferência, um casal e que quero sim gestar.
Descobri que sou forte, e que as coisas vão, sim, ficar bem.
Descobri que amo a Monja Coen e que tenho uma forte ligação com o budismo, ele me acalma e me ajuda a lidar com a ansiedade.
E, talvez o mais importante: descobri que não estou sozinha. Eu tenho a mim mesma. E ainda tenho pessoas que se importam comigo. E eu vou ficar bem.
Caro leitor,
Se eu puder te dar um conselho; ainda que eu mesma esteja aprendendo a segui-lo; é este: volte para si. Mesmo que assuste. Mesmo que doa. Porque é lá, dentro, nesse lugar onde moram suas verdades, suas músicas preferidas, seus silêncios e os pequenos gestos que só você percebe, que reside a força para continuar.
Talvez você também descubra, aos poucos, que há beleza em si mesmo. E que, apesar dos pesares, ainda vale a pena ser gentil, principalmente com você.
Com carinho,
uma menina que está (re)aprendendo a se amar.