Não sei exatamente quando comecei a me desculpar. Talvez tenha sido na minha primeira queda de bicicleta ou no primeiro tropeço em um desconhecido. Mas, de alguma forma, sinto que sempre estive me desculpando.
Fui ensinada assim: "Se alguém esbarrar em você, para evitar problemas, peça desculpas." Desde então, peço desculpas até pelo que não é minha culpa.
Desculpe pelo incômodo. Desculpe pelo transtorno. Desculpe por aquele dia. Me desculpe.
Como se tudo fosse, de fato, minha culpa. Mas não é.
O Terno, famosa banda brasileira, tem uma música que retrata muito bem essa sensação. Em um dos trechos, a canção diz:
"Parece que eu fico o tempo todo culpado,
Com culpa eu não sei do quê.
Quem vai me desculpar se eu não fiz nada de errado?
Que mais que eu posso fazer?"
A psicanálise explica a culpa como um sentimento emocional ligado ao remorso. Surge quando acreditamos ter comprometido nossos próprios padrões de conduta ou violado princípios morais, assumindo uma responsabilidade, real ou imaginária, sobre isso. É um sentimento universal, que todo mundo já experimentou em algum momento da vida, de diferentes formas.
Talvez essa necessidade constante de se desculpar seja uma construção social, algo que aprendemos desde cedo e que se torna quase um reflexo. Mas, no fim das contas, se não fizemos nada de errado, por que sentimos culpa? E mais: quem vai nos desculpar por algo que nunca deveríamos ter carregado?
A culpa pode ter um lado positivo quando traz aprendizado, mas e quando só nos ensina a nos culpar sem motivo?
Na filosofia, a culpa é vista como a medida da nossa ignorância sobre nós mesmos. Se fosse, de fato, nossa culpa, haveria uma consequência real. Mas eu tenho esse problema: maximizo tudo. Sempre acreditei que, se eu não pedisse desculpa, um desequilíbrio cósmico aconteceria. O universo ruiria por minha causa. Isso é algo que, de certa forma, me aprisiona, me coloca em um lugar onde sou sempre responsável por tudo, até por aquilo que não controlo.
Talvez seja egocentrismo da minha parte, mas é mais forte que eu. E então eu me vejo, mais uma vez, pedindo desculpas. A cada tropeço, cada desentendimento, mesmo quando não sou eu quem erro. Parece um reflexo automático, cansativo e exaustivo. A gente pede tanta desculpa que, às vezes, nem se lembra o porquê.
Resolvi, então, tomar uma atitude drástica: vou tentar passar uma semana sem pedir desculpas por erros que não são meus. Sempre acreditei que mudanças de atitude são mais poderosas que desculpas vazias, mas mesmo assim, sigo me desculpando, como se isso fosse de alguma forma necessário. Cansei.
Agora, não pedirei mais desculpas por aquilo que não fiz. Não vou mais carregar o peso de uma culpa que não é minha. O hoje é a única coisa que posso controlar, e não vou deixá-lo passar em branco.
Caro leitor, dessa vez eu não pedirei desculpas!