O poeta que não sabia amar acordou em mais uma manhã melancólica. Tomou seu café sem graça e vestiu seu sobretudo verde-musgo. Caminhava lentamente pelo mesmo trajeto de sempre.
Pelo caminho, casais se abraçavam, trocavam olhares, sorrisos. "Como podem amar em um dia tão frio?", se perguntava todos os dias.
No meio do percurso, resolveu visitar o túmulo de sua mãe. Trocou as rosas mortas por lírios brancos, contou as boas novas e partiu.
No caminho, passou por crianças que brincavam descalças. "Como podem sorrir em meio a tantas desgraças?", pensava.
E assim, seguiu rumo ao destino de todos aqueles que são incapazes de amar: a lugar nenhum.
Não entenda mal, este poeta era diferente dos outros. Ele não sabia amar. Talvez a vida difícil o tivesse endurecido assim.
Passando pela esquina, viu um letreiro antigo, de uma loja empoeirada que mais parecia um antiquário. "Aqui jaz o que você precisa", dizia a placa. Achou tendencioso demais, mas resolveu entrar. Afinal, já estava atrasado para lugar nenhum.
Dentro, poeira, relíquias e memórias esquecidas. Riu debochadamente. No fundo, uma senhora de cabelos brancos o esperava.
— Dê-me suas mãos, meu filho. Afinal, não há nada mais a perder.
Era verdade. O poeta que não sabia amar já não tinha mais nada. Apenas dívidas e alguns cadernos antigos, de um tempo em que a vida fazia sentido.
Resignado, entregou suas mãos à velha senhora. Minutos de silêncio. Então, ela falou:
— Meu jovem, o que você precisa está diante de você. Basta ter olhos sábios e um coração aberto para enxergar.
O poeta resmungou e saiu da loja, irritado. "Francamente, perdi meu tempo", pensou.
Continuou sua caminhada sem rumo, atravessando ruas com nomes que pareciam zombar de sua própria existência.
A Rua das Lamentações. "Bando de vagabundos, queria ter tempo assim", resmungou.
A Rua das Dores. "Eu devo ter jogado uma pedra em algum lugar, porque todos querem atrapalhar meu caminho."
A Rua do Amor. Aquela, de todas, era a que mais odiava. Afinal, ele era o poeta que não sabia amar.
Entre todos os poetas, apenas ele não sabia amar. Por isso, seus poemas não faziam sucesso. "Como pode um poeta não amar?"
Continuou andando, furioso, atravessando ruas que traziam sentimentos que ele já não reconhecia.
A Rua da Saudade. A Rua da Alegria. A Rua da Raiva. E, enfim, a Rua da Esperança.
Passava apressado quando algo o fez parar.
Uma voz infantil o chamou. Olhou para baixo. Um garotinho estendia um caderno e um lápis.
Sem dizer nada, entregou-lhe um bilhete, abraçou-o e sumiu na multidão.
No bilhete, lia-se: "Está tudo bem. Pode chorar."
O poeta que não sabia amar chorou como nunca. Chovia na Rua da Esperança. Trovões ressoavam dentro dele.
Molhado e encharcado, voltou para casa. A casa do poeta que não sabia amar.
Lá, olhou-se no espelho e viu, refletida, a imagem do garotinho do bilhete. Era ele. Ele, ainda criança, sorrindo.
Naquela noite, algo mudou. Ele sentiu um calor no peito que mal lembrava ter existido.
Na manhã seguinte, caminhou novamente pelas mesmas ruas.
Na Rua da Alegria, sorriu. Na Rua dos Enamorados, amou. Na Rua das Dores, sentiu dor. Na Rua da Raiva, se irou. Mas algo era diferente.
O poeta que não sabia amar distribuiu flores, escreveu poemas e, pela primeira vez, assinou de outra forma:
"O poeta que amava a vida."
E amou. Cada detalhe. Cada instante. Até seu último dia.
Em sua lápide, os versos que agora todos conheciam: "Aqui jaz um poeta que, um dia, aprendeu a amar a vida."